sexta-feira, 18 de maio de 2007
O Universo de Miguel 5
Miguel era um apaixonado. Ele dizia que tinha muito amor no coração. Uma vez, depois de uma confusão tão típica daqueles amores de juventude ele escreveu esta carta:
Fiquei a pensar no que me disseste. Foi estranho. Tive medo. Nos últimos tempos, a minha cabeça transformou-se numa corrente, forte, de pensamentos. Fizeste-me questionar tudo. Puseste-me à prova.
Às vezes a vida, como que de propósito, vira-se contra nós. A minha ofereceu-me aquilo para o qual eu tinha uma resposta preparada, há muito tempo. Uma resposta que para mim era a única certa. Quantas vezes repeti esta minha certeza! Quantas vezes critiquei, cheguei mesmo a insultar, quem não fazia aquilo que eu fazia!
Pois bem, hoje tenho vergonha de mim. Vergonha de abrir a boca. Mas não penses que estou arrependido daquilo que fiz. Estou arrependido daquilo que disse.
Deparei-me com o problema e, quase sem pensar, resolvi-o da forma com que menos concordava. Estranhamente, para mim, o Sol nasceu mais brilhante Segunda-Feira. Nem houve tempo para raciocinar (se é que sou capaz de o fazer!!) porque o meu coração tomou conta de tudo. Porque precisa de ti. Porque te ama muito. Porque nunca teve tanto medo de perder alguém que na realidade não me é nada.
Acho que também nunca tinha percebido a dimensão daquilo que sinto. É de tal maneira grandioso que me fez virar contra mim mesmo, contra a minha opinião, contra a minha razão, contra a pouca personalidade que me resta para dizer que aqui estou e que seria muito infeliz longe de ti.
Só te quero pedir que não brinques com os meus sentimentos. Eu vivo deles, são o meu alimento, são o meu dia-a-dia. E eu preservo-os muito.
Não tens que te preocupar comigo. A única coisa que te peço é que me digas o que tens a dizer. Na altura certa. Imediatamente.
Contudo esta carta nunca saiu do bloco de notas em que foi escrita, a vida continuou e com o melhor remédio é o tempo Miguel decidiu dedicar-se ao que mais gostava e a coisa passou.
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