segunda-feira, 14 de maio de 2007

O Universo de Miguel 2



Por vezes Miguel nos seus momentos de fraqueza e franqueza escrevia:
Se estou mal porque é que não dou a volta e fico por cima?
Será que perdi a minha gana de ser melhor ou essa vontade está apenas adormecida no sono que hoje não dormi?
Não consigo parar de não fazer nada.
É um vício que se apodera de nós e nos domina, e nos impede de reagir.
Nós sentimo-nos bem, sentimo-nos confortáveis.
Até porque há problemas maiores no mundo.
Porque é que Deus se iria preocupar comigo quando há uma guerra a decorrer, há gente a morrer à fome.
Toda a gente sabe de tudo.
Só eu é que não sei nada e continuo feliz.
Mas porque é que eu não entro em transe?
Porque é que eu não estou desperado com esta pacividade?
Porque é que eu fico aqui calmo e sereno quando o meu mundo está a desabar?
Isto é horrivel, fazer nada quando se tem tudo para fazer.
Que pacividade completa e nojenta.
Porque é que eu não sinto dor?
Não sinto medo?
Não sinto alegria?
Apenas disfarço para que os outros, sim porque são sempre os outros nunca nós, achem que sou um gajo normal, com sucesso, como se diz agora um gajo cool.
Será o nosso calculismo?
Meu Deus, é impressionante, nós queremos calcular tudo.
Dominar tudo.
Apesar de os outros reagirem como nós queremos, nós nunca reagimos como nós queremos.
O pior é quando damos por nós a pensar naquilo que deviamos ter dito e não dissemos.
É uma agonia electrizante que nos deixa numa depressão alegre e constante.
Deve ser algo parecido a ser um peixe, viver debaixo de água e pensar que se tem pulmões.
Pensamos que temos que vir à superficie respirar mas reparamos que não é preciso pois estamos bem debaixo de água.
A sua vida era tão simples de gerir que ele necessitava de criar dentro da sua própria cabeça esquemas complexos para se poder sentir vivo. A verdade é que este sedativo apenas funcionava até ele acabar de escrever os seus textos. Ele não conseguia ir mais além. Havia também momentos em que o melhor que lhe sai era isto:
Eu comecei a escrever já à algum tempo mas parava.
Contudo um certo dia surgiu a ideia de escrever um livro em que eu era mais velho e revia o que escrevi quando era mais novo.
Mas achei que era melhor escrever de outra forma.
Fazer de conta que era mais velho e escrevia sobre o que escrevia quando era mais novo.
Ai não me consigo explicar.
Hoje nao estou para aqui virado volto outro dia.
Frustrante.

1 comentário:

Isabel Martins disse...

Esta mensagem deveria ser lida em todo o mundo por todos os seres, é sem duvida a imagem de um ser que despertou neste mundo e vive todas as angústias de ser humano.

O Homem a partir do segundo que surgiu no mundo apareceu a dúvida a incerteza e á medida que a sua mente se desenvolve cada vez maior é a certeza da incerteza.

O Homem criou a religião, porque se sentia perdido e precisava de acreditar em algo, mas como sempre tudo tem duas faces; o Bem e o Mal ou seja a vida é uma dualidade e nós em nossos pensamentos e sentimentos somos a prova viva que a dualidade existe, todos somos capazes de acções de carinho amor e logo em seguida somos também capazes das maiores atrocidades, a nossa História é a prova real destes sentimentos opostos mas ao mesmo tempo próximos.

Meu caro você não está perdido, você está em busca de algo mais e durante essa caminhada muitas vezes caírá para logo em seguida se levantar é isto que nos faz mais fortes e íntegros

Bem Haja...grata pela sua grande mensagem.